Poesia: Florbela Espanca

                                       Versos de Orgulho

                           O mundo quer-me mal porque ninguém
                           Tem asas como eu tenho! Porque Deus
                           Me fez nascer Princesa entre plebeus
                           Numa torre de orgulho e de desdém.

                           Porque o meu Reino fica para além …
                           Porque trago no olhar os vastos céus
                           E os oiros e clarões são todos meus !
                           Porque eu sou Eu e porque Eu sou Alguém !

                           O mundo ? O que é o mundo, ó meu Amor ?
                           __O jardim dos meus versos todo em flor…
                           A seara dos teus beijos, pão bendito…

                           Meus êxtases, meus sonhos, meus cansaços…
                           __São os teus braços dentro dos meus braços,
                           Via Láctea fechando o Infinito.

Flobela Espanca por Bottelho

                                           

 "A vida é sempre a mesma para todos: rede de ilusões e desenganos. 

O quadro é único, a moldura é que é diferente."

Florbela Espanca

Filme: A luta pela esperança

Ontem assisti ao filme “A luta pela esperança”, indicação feita há certo tempo e que de certa forma adiei na espera do momento adequado. No entanto, fiquei bem surpreso com a qualidade do filme, mas principalmente por não ter ganhado nenhum Oscar apesar das três indicações. Russel Crowe como de costume rouba a cena em qualquer filme, e se a premiação hollywoodiana realmente tivesse critério, este ator teria mais duas estatuetas tanto por este filme como por “Uma mente Brilhante”.  O filme foi baseado na história real do boxeador James J. Braddock, considerado um prodígio do boxe, mas obrigado a se aposentar prematuramente devido a uma série de derrotas no ringue. Braddock recebeu uma nova chance em 1934, contra John Griffin, que era o grande candidato ao título mundial, Braddock que se despediria do boxe nesta luta, acabou, inesperadamente, vencendo Griffin por nocaute no terceiro round. Em seguida, venceria novamente, dessa vez contra o futuro campeão de meio-pesados, John Henry Lewis. Ainda lutaria em outra grande luta contra Art Lasky, antes de enfrentar Max Baer na disputa do título do campeonato mundial. Escolhido para lutar contra Baer por ser considerado uma vitória fácil, Braddock surpreendeu novamente, e lutando no Madison Square Garden Bowl, venceu Baer, que era quatro anos mais jovem, em uma das lutas mais impressionantes da história do boxe, tendo sido escolhido pelos juízes em 10 para 1 após os quinze rounds. Nesta época os Estados Unidos viviam a Grande Depressão, e Braddock se torna o símbolo de esperança de muitos americanos. Um filme simplesmente sensacional, em tempos que a esperança tem sido devastada, traz um alento aos enfadados como eu.

"Em toda a história do boxe, não há experiência humana 

que se compare a narrativa da vida

de James J Braddock" - Damon Runyon

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Dawson`s Creek

Nas tardes de sábado, a rede Globo transmitia um seriado juvenil que era sucesso de crítica nos Estados Unidos no início da década. Dawson´s Creek contava a história de adolescentes envolvidos com problemas cotidianos em face do amadurecimento. Infelizmente devido à baixa audiência obtida pela emissora carioca, o seriado acabou sendo cancelado em sua terceira temporada. Na época não havia internet de acesso rápido e barato, bem como era inviável comprar os DVDs originais que posteriormente foram colocados a venda. No entanto mantive a lembrança pungente de adquirir um dia e após os avanços da internet, pude enfim baixar todo o seriado em formato RMVB. O interessante foi perceber que após praticamente 10 anos ainda recordava com detalhes alguns capítulos, e a cada nova temporada era mais um desafio entender que estava no fim, fim este prolatado nos últimos meses, prolongando assim praticamente todo o ano. Realmente uma série marcante pelos pontos abordados e pela maneira tratada, quem foi adolescente antes desta atual revolução digital se encontraria em algum personagem. Sendo assim, um Viva  e um  Salve acompanhado de alguns tiros de canhões ao som das trombetas às lembranças, afinal de contas relembrar o passado é a melhor forma de conhecer quem nos tornamos.

Um país chamado Brasil

Antônio Marinho, na década de 40, já dizia:

O país é uma roseira

 A pobreza é a raiz

 No trabalho é a primeira

 Na sorte a mais infeliz

 A haste, a escadaria

 Por onde a aristocracia

 Sobe os degraus da vontade

 Deputados, Senadores

 Desta roseira são flores

 Sem responsabilidade

Os parlamentares brasileiros deram outra prova de generosidade, respeito e dignidade para com o povo deste país. Aumentaram em 62% os próprios salários, que somados os benefícios passarão a receber mais de 100 000 mil por mês. Numa época em que a inflação desfaz as contas públicas, e as demissões em massa nos municípios aumentam, sobra sensibilidade e descaso com a opinião pública para os nossos representantes. Na realidade é difícil entender o significado de “representante”, tendo em vista sermos totalmente contra estes aumentos indevidos e mesmo assim serem concedidos. Somos a favor de uma educação de base adequada, onde professores sejam respeitados, queremos segurança com policiais bem pagos, sonhamos com hospitais que não estejam lotados. Isto sim é pedir demais para os deputados. Sinceramente, a esperança tem sido castigada e desgastada a cada semestre parlamentar, é difícil acreditar que possamos algum dia ter políticos honestos comprometidos com a sociedade. Aos que acreditam no plano divino resta o castigo em outra vida aos malfeitores do congresso, aos descrentes resta indignação e sofrimento enquanto este país for Brasil.

                                  

                                   Na proposta eles pedem cem por cento

                                   De salário dos cofres executivo

                                   Imagine o poder legislativo

                                   Ter direito em votar seu próprio aumento

                                   Dos larápios que estão no parlamento

                                   Um conversa abobrinha outro gargalha

                                   A justiça é corrupta, cega e falha

                                   E eleitor um cordeiro no covil

                                   Deputados por mês querem cem mil

                                   E dão trezentos e oitenta a quem trabalha

                                                                       Nonato Costa

" A pátria não são bandeiras, 

nem hinos, mas um punhado de 

lugares e pessoas que povoam nossas 

lembranças e as tingem de melancolia"

Mario Vargas Llosa, 

Prêmio Nobel de Literatura

O ser humano e suas idealizações de coletividade

Após a globalização e sua relativa aceleração na interação cultural global, onde grandes marcas ocupam os continentes, levando além de produtos, idéias e posicionamento social frente os indivíduos, o mundo como conhecíamos desapareceu. As barreiras sociais, étnicas e culturais foram ultrapassadas, e nem mesmo a China e seu totalitarismo resistiram ao capitalismo e seu fascínio. Praticamente em qualquer lugar deste planeta em que as pessoas possam se comunicar sem lanças ou tanques existe um estabelecimento da McDonald's, em contrapartida a Nike não possui mais fábrica no seu país de origem, e a Coca-Cola é mais famosa do que John Lennon. Entendendo que cada um de nós, vive experiências que nos tornam exatamente as pessoas que somos nada mais acontece por acaso. Estamos realmente sendo o resultado que o meio proporciona, por isso não se assuste se de repente você acordar algum dia ouvindo alguma melodia estranha ao seu repertório. Também não precisa pânico acaso descubra que suas roupas, hábitos e preferências mudam a cada mês. Somos as vitimas da vez. Pobres prisioneiros da cultura mais pop de todos os tempos. E leia pop no sentido exclusivamente norte-americano. Essa idéia de querer fazer ranking pra tudo que existe, acaba sensibilizando muitas mentes. O conceito do “Melhor” passou a ter novos paradigmas, e no mundo atual o melhor é o que mais vendeu, é o mais famoso, o mais caro e o mais bonito. Ou seja, agora temos súmulas vinculantes que nos obrigam a seguir o que a coletividade aclamou. Sendo assim, considere-se um sobrevivente se acaso você ainda goste de José Lins do Rego, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Luiz Gonzaga, Altemar Dutra, Nelson Gonçalves, Jessier Quirino, Chico Pedrosa e tantos outros, membros culturais das minhas experiências. Talvez apenas bons para mim, talvez desconhecidos para muitos. Porém únicos, sem comparações. E sobrevivente em nada se ralaciona com bom ou ruim, não sou melhor ou pior por gostar de A ou B. Apenas sinto saudade do tempo que cada um de nós gostava de algo por vontade própria.

ABBA Gold: Greatest Hits

Como de costume ótimas surpresas acontecem inesperadamente. Alguns meses atrás por intermédio do pai da minha namorada, Seu Edmilson, conheci o grupo sueco ABBA, do qual ele é fã e guarda praticamente escondido a coletânea em DVD com os maiores sucessos. Inclusive me pergunto até hoje o porque de tão tardia descoberta, apesar de vagamente ter escutado Dancing Queen um dos maiores sucessos do grupo e que teria sido elaborado em homenagem ao casamento da futura Rainha Silvia da Suécia. Além de ter tido outra interpretação no filme Miss Simpatia com Sandra Bullock, que repetidas vezes passa no SBT nas noites de sábado e que me faz recordar minha querida Guarabira e seus monótonos finais de semana. Após aquele dia, resolvi procurar na internet músicas, fotos, história e etc. E apesar de apenas 10 anos de atividade o ABBA vendeu mais de 350 milhões de discos em todo mundo. Formado pelas duas esplêndidas cantoras Agnetha Fältskog e Anni-Frid Lyngstad e pelos excelentes músicos e compositores Björn Ulveaus e Benny Andersson pouco se apresentaram ao redor do mundo. Uma forma de compesar a falta de shows fora da Suécia foi a gravação de vários vídeo-clips que até hoje fazem sucesso.  Outro ponto fundamental é a nitidez nas canções, um inglês pra norte-americano ver. Quanto a surpresa será uma das que jamais esquecerei.

Download do Cd - Clique Aqui


Segue um Vídeo-clip de Chiquitita

Poesia - Augusto dos Anjos

Vandalismo
(Augusto dos Anjos)

Meu coração tem catedrais imensas,

Templos de priscas e longínquas datas,
Onde um nume de amor, em serenatas,
Canta a aleluia virginal das crenças.

Na ogiva fúlgida e nas colunatas
Vertem lustrais irradiações intensas
Cintilações de lâmpadas suspensas
E as ametistas e os florões e as pratas.

Como os velhos Templários medievais
Entrei um dia nessas catedrais
E nesses templos claros e risonhos.

E erguendo os gládios e brandindo as hastas,
No desespero dos iconoclastas
Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!