quinta-feira, 24 de março de 2011

Carta a Papai Noel

Luiz Campos

Seu moço eu fui um garoto,
Infeliz na minha infança,
Eu sube que fui criança,
Mas pela boca dos ôto,
Só binquei cum os gafanhoto,
Qui achava no tabuleiro,
Debaixo do juazeiro,
Cum minhas vaca de osso,
Essas catrevage seu moço,
Que se arranja sem dinheiro.

Quando eu via um gurizim,
Brincando de velocipe,
De caminhão e de jeep,
Bola, revóver e carrim,
Sentia dentro de mim,
Desgosto qui dava medo,
Ficava chupando o dedo,
Chorava o resto do dia,
Só pruque eu num pudia,
Pegar naqueles brinquedo.

E preguntei uma vez,
A uns fio dum doutor,
Diga fazendo favor,
Quem dá isso a vocês?
Me arrespondeu logo uns três,
_Isso aqui é os presente,
Que a gente é inocente,
Vai drumir, as vez nem nota,
Papai Noé vem e bota,
Perto do berço da gente!

Fiquei naquilo pensando,
Inté o natá chegar,
E na noite de natá,
Eu fui drumir me alembrando,
Acordei, fiquei caçando,
Por onde eu tava deitado,
Seu moço eu fui enganado,
Que de presente o que tinha,
Era de mijo uma poçinha,
Que eu mesmo tinha botado.

Saí com a bixiga preta,
Caçando os amigo meu,
Quando eles mostraram a eu,
Caminhão, carro, carreta,
Bola, revólver, corneta,
E trem elétrico inté,
Boneca, máquina de pé,
Mas num brinquei só fiz ver,
E resolvi escrever,
Uma carta a Papai Noé.

"Papai Noè é pecado,
Os outro lhe martratá,
Mas eu vou lhe arrecramá,
Uns troço qui ta errado,
Qui aos fio do deputado,
O sinhô dá tanto carrim,
Mas o sinhô é muito rim,
Que lá im casa num vai,
Pro certo num é meu pai,
Que num se alembra de mim!?

Eu já to certo qui você,
Só balança o povo seu,
E um pobre qui nem eu,
Você vê, faz qui num vê,
E se vê num sei purque,
Que aqui im casa num vem?
O ranchim a gente tem,
É pequeno, mas lhe cabe,
Pru certo você num sabe,
Que pobre é gente também?

Você de roupa incarnada,
Colorida, bonitinha,
Nunca arreparou que a minha,
Já tá toda remendada,
Seja mais meu camarada,
Pra eu não lhe chamar de rim,
Para o ano faça assim,
Dê meno pos fi dos rico,
De cada um tire um tico,
E traga um presente pra mim.

Meu endereço eu vou dá,
Da casa que eu moro nela,
Que eu moro numa favela,
Que o sinhô nunca foi lá,
Mas quando o sinhô chegá,
Que avistá uma palhoça,
Coberta com uma lona grossa,
E dois buraco bem grande,
Uma porta véia de frande,
Pode bater que é a nossa.

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